Cinquenta anos depois das águas terem submerso 80% das figuras que constituem o complexo do vale do Tejo, a arte rupestre esteve em destaque em Vila Velha de Ródão, onde a “Geração do Tejo” se juntou a outros investigadores, gestores culturais e representantes de vários setores para analisarem este tesouro submerso, que Jordi Pardo apelidou de “diamante em bruto” e cuja candidatura a património nacional está a ser avaliada.
Organizado pelo Município local e pela Associação de Estudos do Alto Tejo, a iniciativa procurou discutir estratégias e estabelecer parcerias que permitam conservar, investigar e dar a conhecer a um público mais vasto este que é o maior conjunto de arte rupestre ao ar livre do mundo e saldou-se numa emotiva viagem ao passado e de homenagem aos membros da chamada “Geração do Tejo”, nome atribuído aos arqueólogos e estudantes que, a partir de finais de 1971, graças às campanhas de salvamento arqueológico, garantiram a catalogação e preservação da arte rupestre do vale do Tejo, antes da sua submersão devido à construção da barragem do Fratel, conta o município.
Lamentando que o enclausuramento destas gravuras pelo Estado Novo, sem qualquer escrutínio, se tenha consumado “num facto sem retorno que amputou ao concelho de Vila Velha de Ródão um dos seus patrimónios mais representativos e significativos”, o presidente da autarquia, Luís Pereira, aproveitou a abertura do Seminário para agradecer ao então jovem grupo de estudantes pelo “trabalho árduo, empenhado e estoico” que, em tempo recorde e com parcos recursos, impediu que este “valioso espólio e testemunho da ocupação humana do nosso território fosse votado ao mais sombrio esquecimento”.
O seminário serviu de mote para recordar o contexto em que ocorreram as campanhas de salvamento arqueológico dos anos 70, assim como as técnicas inovadoras então utilizadas e desconhecidas em Portugal, como a produção de moldes de latex ou o uso da fotografia, e reuniu investigadores internacionais que apresentaram uma visão integrada da arte rupestre na Península Ibérica, nos países nórdicos e na Escócia.
A importância do desenvolvimento de modelos de gestão integrada do património cultural e arqueológico, que garantam a viabilidade, sustentabilidade e comunicação adequada dos projetos desenvolvidos foi tema da última sessão do encontro, onde Jordi Pardo, da empresa Nartex Barcelona, que se dedica ao desenvolvimento de projetos culturais e turísticos, destacou que o tempo, o espaço e a autenticidade são aspetos cada vez mais valorizados. Lembrando que a cultura não deve ser encarada como uma despesa, mas antes considerada pelo impacto positivo que tem no PIB dos países, classificou a arte rupestre do vale do Tejo como “um diamante europeu por descobrir” que importa divulgar com um olhar posto no futuro.
A par dos trabalhos, o Seminário destacou-se ainda pela apresentação do livro “Memórias Arqueológicas do Vale do Tejo”, de António Martinho Baptista. A apresentação do projeto do CIART – Centro Interpretativo da Arte Rupestre do Vale do Tejo e o anúncio da sua reabertura em outubro deste ano marcaram o finaldo seminário. Alvo duma intervenção de requalificação que representou um investimento superior a um milhão de euros e manteve apenas as paredes exteriores do edifício anterior, a autarquia de Ródão revela que o espaço sofreu uma ampliação que permitiu aumentar consideravelmente as galerias expositivas e criar novos espaços polivalentes e uma nova entrada, encontrando-se em fase de conclusão a instalação do novo projeto de museografia.